Eleição é negócio e cenário político é de pouca mudança
Para cientista política, candidatos investem muito alto para se manter nos mandatos, concentrar influência e ambição de poder

As eleições nunca deixaram de ser um negócio caro, lucrativo, que envolve poder, dinheiro, e uma busca quase que incessante em se manter no mandato, principalmente no Poder Legislativo. Para chegar e se manter no cargo de deputado estadual ou federal, é preciso investimentos e quanto mais recursos financeiros, mais chances de ser eleito.
Em contato com a reportagem da Tribuna Independente, a cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciana Santana destaca que os valores investidos pelos candidatos nas campanhas eleitorais representam o desafio que é alcançar a população.
“Eleição, de alguma maneira, ela é um negócio. Então você precisa ter recursos para conseguir sair na frente. Quanto mais recursos, mais chances você tem de ganhar uma eleição. Então, o candidato precisa ter mais estrutura, ter mais ferramentas à sua disposição para poder acessar o eleitorado, conquistar eleitor, bancadas etc. e tal. Então, isso tudo demanda dinheiro, é muito caro você chegar à quantidade de eleitores necessários ali e convencê-los de que você é uma opção viável”, avalia.
Luciana Santana explica que a busca pela renovação dos mandatos é um caminho previsto na ciência política.
“Tem várias teorias na ciência política que mostram claramente que todo político tem a ambição de estar no poder. E quando ele chega no poder, ele tem a pretensão de se manter de alguma maneira no poder. Então é isso que acontece, é uma ambição de ocupar espaço de poder. Então, por isso que existe essa importância de quem está no mandato buscar essa renovação”, reforça.
Mas a cientista política pondera sobre o impacto disso para o espaço. “A gente também tem trabalhos que mostram que quanto mais experiente, mais chances esse deputado, esse vereador, enfim, senador etc. tem de emplacar projetos, porque ele já conhece o processo legislativo, já conhece como articula. É diferente do que acontece com aqueles eleitos para o primeiro mandato, que eles precisam aprender a dinâmica do legislativo para poder tomar decisões ou pelo menos para conseguir levar adiante seus projetos, então tem uma questão da experiência que é importante. Ao mesmo tempo é saudável também que haja alguma renovação, não é esperado e nem os mesmos políticos se mantenham no poder por tanto tempo, até por isso a eleição é considerada um meio de controle, onde você consegue premiar ou punir os parlamentares, os políticos, a depender do seu comportamento no âmbito da função”, contextualiza a cientista política.
Na avaliação de Luciana Santana, a possibilidade de renovação nas eleições de 2026 não são muito altas.
“Eu não sou muito otimista nesse sentido. Até acho que a gente pode ter uma mudança no perfil ali de algumas bancadas, mas não uma renovação tão alta a ponto de a gente dizer que vai alterar substancialmente o que a gente tem. A gente teria que ter uma mudança de mentalidade do eleitor, e eu não consigo perceber”, destaca.
Para romper com essa probabilidade, e ocupar pela primeira vez as vagas, Luciana Santana afirma que os candidatos precisam contar com muito apoio.
“Primeiro é preciso ter uma estrutura partidária que lhe dê sustentação. Isso tudo é que vai garantir que ele tenha acesso a recursos, que ele seja conhecido ou conhecida. Que eles possam de alguma maneira se apresentar para a sociedade e garantindo aí que eles possam ser a opção. Então é muito mais difícil quem está fora entrar, mas não significa que eles não possam entrar, desde que eles consigam efetivamente criar esses vínculos com a sociedade e ter estrutura, ter esses espaços é extremamente necessário”, finaliza a cientista política.
Por Tribuna Hoje