Deputados denunciam nepotismo e sucessivos erros no Lacen durante pandemia
Deputados estaduais fizeram denúncias graves, durante a sessão ordinária da Assembleia Legislativa Estadual (ALE), na manhã desta quarta-feira (22), sobre o funcionamento do Laboratório Central de Análises Clínicas de Alagoas (Lacen/AL) nesta pandemia. Eles revelaram prática de nepotismo, negligência nos procedimentos e sucessivos indícios de erros nos testes para detecção do novo coronavírus na administração do Governo Renan Filho (PMDB).
O assunto veio à tona, inicialmente, pelo deputado Davi Maia (DEM), que anunciou pedido formal de esclarecimentos ao Executivo e de respostas de servidores e ex-servidores da Saúde que estão exercendo cargos no laboratório de maneira indevida. Um deles, segundo o parlamentar, foi preso na Operação Florence “Damas das Lâmpadas”, da Polícia Federal (PF), que teve como alvo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).
Maia disse que recebeu, de fontes ligadas ao Lacen/AL, todas as informações necessárias, com documentos, fotos e relatórios, para subsidiar os requerimentos feitos com a cobrança de esclarecimentos por parte da chefia do Executivo estadual.
Segundo ele, havia uma demanda reprimida de mais de 400 exames para diagnóstico do novo coronavírus em Alagoas, antes da habilitação do laboratório para esta testagem. À época, as amostras foram levadas para o Lacen de Sergipe e lá foram feitos 235 procedimentos. “No entanto, há uma lista de prioridades para a realização dos exames, inclusive com a informação de liberação pela governança. Isto só reforça a politicagem no enfrentamento à pandemia em Alagoas”.
Na sessão, o deputado do Democratas exibiu um e-mail da assessora técnica do Lacen revelando que o laboratório não teria kits para testar a amostra do primeiro óbito anunciado em Alagoas desta doença. Até hoje, os familiares do acreano José Dagmar, de 64 anos, contestam a versão de que o idoso morreu com Covid-19. “Além disso, o e-mail também confirma que a mulher do idoso sequer tinha sido testada para a doença”, revela o deputado.
Ele informou que o aparelho usado para manter a temperatura dos exames de coronavírus está quebrado no Lacen/AL. “E isto põe em dúvida todos os exames que ficaram ali armazenados. Não há nem 10% dos kits anunciados para o governo. Os exames estão indo para uma empresa em SP, chamada Biomega, mas lá somente exames rápidos. A probabilidade é alta de todos os exames darem negativo, dada a sensibilidade do material coletado e a forma como foi manipulado em Alagoas”, avalia.
Quanto ao nepotismo, Maia listou os cargos ocupados por ligações políticas e familiares no referido laboratório. Ele revelou que o filho da chefe setorial da Soroteca trabalha no setor de análises, o esposo dela é chefe da TI [Tecnologia da Informação], a filha é advogada do laboratório e a nora, chefe da Imunologia.
Ele continuou que o filho da chefe do RH trabalha no setor de Bromatologia, a prima dela é chefe do setor de Saúde do Trabalhador, a nora trabalha no Administrativo e o sobrinho, no Almoxarifado. A chefe do setor de qualidade é esposa de um dos chefes e a nora dela é da Biologia Molecular.
“Até quem fornece as quentinhas é mãe de uma das funcionárias, e o filho do chefe do financeiro da secretaria também trabalha no Lacen”, afirmou.
Diante desta situação, o deputado quer saber, oficialmente, quantos exames estão sendo feitos diariamente no Lacen, qual o critério de prioridades da realização, como a gestão do Lacen está lidando com a imensa demanda, qual a situação dos equipamentos e capacidade do laboratório e como o governo tem atuado na gestão deste laboratório.
“O que temos, em Alagoas, são notícias falsas, alardeadas pelo governador Renan Filho. Espero, inclusive, que o Ministério Público faça a sua parte”.
O deputado Cabo Bebeto (PSL) completou que o exame do primeiro idoso que morreu em Alagoas foi assinado por uma pessoa sem competência do Lacen/AL.
Já a deputada Jó Pereira (MDB), integrante da Comissão de Saúde, demonstrou indignação acerca dos fatos e informou que o colegiado vai se debruçar nestas denúncias, iniciando a fiscalização que se fizer necessária.
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