Leilão de importação de arroz foi arrematado por mercearia de bairro, fabricante de sorvetes e locadora de carros

Empresas sem afinidade com o setor venceram o certame que arrematou 263 mil toneladas de arroz à Conab; elas serão multadas se não depositarem garantia até a próxima quinta-feira, afirma Conab

Uma fabricante de sorvetes, uma mercearia especializada em queijo e uma locadora de veículos estão entre as vencedoras do leilão para importação de arroz promovido pelo governo federal. O certame foi concluído na quinta-feira (6) e foi realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O pregão, com valor total R$ 1,3 bilhão, garantiu a compra de 263,37 mil toneladas do grão, com a média do quilo ficando em R$ 4,99.

A Conab afirma que não conhece as empresas participantes durante o leilão e que seus nomes só aparecem depois da operação ser concluída. O objetivo do governo federal com a medida é evitar o aumento dos preços do arroz. As informações são do Estadão.

Das quatro empresas vencedoras do leilão, apenas uma – a Zafira Trading – é uma empresa do ramo. A maior fatia, 147,3 toneladas do grão, foi arrematada por uma mercearia de Macapá, no Amapá. Com nome fantasia “Queijo Minas”, a Wisley A. de Sousa Ltda poderá vender 147,3 mil toneladas de arroz para a Conab, ao preço de R$ 736,2 milhões. A empresa afirmou, por meio de advogados, ter condições de cumprir o edital.

Dois lotes do leilão foram arrematados pela Icefruit, empresa que tem sede em Tatuí (SP). Ela é uma empresa média, segundo o cadastro da Receita Federal, e sua atividade é a produção de conservas de frutas, alimentos e sorvetes. Ela também é registrada para comercializar alimentos. O terceiro maior lote do leilão ficou com uma locadora de veículos, a ASR Locação de Veículos e Máquinas. 

As três empresas não costumam participar dos leilões da Conab – a ASR Locação de Veículos e Máquinas apareceu em um leilão do ano passado para a venda de milho em uma operação para o governo da Bahia. O partido Novo acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar e suspender o resultado do leilão.

— No dia 13 a gente vai saber exatamente de quem nós estamos falando. Agora, eu não posso falar sobre quem vai ou quem não vai entregar o produto. Eu só tenho uma certeza que eu posso falar para você: a Conab vai fazer três fiscalizações. Prejuízo financeiro para o governo não vai ter nenhum — afirmou o diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos.

A Conab ainda alega que as vendas foram feitas através das bolsas de alimentos, a Bolsa de Mercadorias do Mato Grosso (BMT) e a Bolsa de Cereais e Mercadorias de Londrina. Elas cadastraram as empresas que tinham interesse em fazer ofertas de arroz importado ao governo federal.

Se as empresas não apresentarem uma garantia equivalente a 5% do valor ofertado até a próxima quinta-feira (13), elas serão multadas em 10% do valor da operação e banidas por dois anos dos leilões da Conab. Além disso, as bolsas que as representam deverão ser punidas.

Grandes empresas do mercado de arroz ficaram de fora do pregão

O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Caio Carvalho, diz que o setor se posicionou contra a proposta de compra de arroz importado, o que pode ter gerado a ausência destas empresas no leilão.

O diretor da Conab, Thiago Santos, acredita que as margens oferecidas pelo governo foram apertadas e que a liminar que aconteceu na véspera suspendendo do leilão podem ter contribuído para essas empresas ficarem de fora.

Santos afirma que 13 bolsas de alimentos do país se cadastraram para o leilão, mas apenas seis apareceram na hora marcada para a oferta. Só duas fizeram lances de oferta. Dos 27 lotes em que as empresas poderiam fazer oferta de arroz, só apareceu mais de um interessado em apenas dois, no Maranhão. No restante, levou a única empresa que fez um lance à Conab ou não apareceram ofertantes.

— Na hora do leilão, o que aparece para mim é apenas o lance da bolsa, não aparece que empresa é. Eu só sei que tem uma empresa que está dando um lance através de uma bolsa, mas eu não sei qual empresa, porque é a bolsa que cadastra a empresa, que verifica as regularidades junto aos normativos da Conab e junto ao nosso edital para saber se a empresa pode ou não participar do leilão — afirmou Santos.

Santos reconheceu que as empresas não têm experiência. Ele afirma, no entanto, que a Conab pretende fazer “reuniões orientativas” com as empresas que fizerem o pagamento de garantia, a fim de ter certeza de que essas empresas farão a entrega do arroz.

O edital do leilão prevê que o arroz deve ser do tipo 1 agulhinha e que deve chegar ao Brasil embalado em sacos de cinco quilos com o rótulo do governo. A Conab deve revender o grão a redes de supermercado e atacarejo para que, então, seja vendido ao preço tabelado de R$ 20 o saco.

Edegar Pretto, presidente da Conab, também afirmou no dia do certame que o leilão havia sido politizado. Esse fator também pode ter contribuído para esse cenário. Ele também assegurou, em entrevista ao programa Campo e Lavoura, da Rádio Gaúcha, que haverá normas a serem seguidas e que a Conab acompanhará de perto os próximos passos da operação.

— Se eles não depositarem essa garantia em cinco dias, vão ser multados em 10 % da operação. Se eles depositarem as garantias do 5%, eles têm até 90 dias para colocar esse produto, o arroz, embalado, já livre de frete para o governo federal, já inspecionado, já passou por toda a legislação sanitária. Tem que passar por essa barreira muito rigorosa, que é reconhecida mundo afora. Além do mais, nós vamos colocar os nossos técnicos mais experientes da Conab in loco lá no país de origem para acompanhar o carregamento. Vamos acompanhar toda a fiscalização no porto e vamos acompanhar até a chegada na prateleira do supermercado para garantir que esse produto esteja bom para o consumo da população — complementou Pretto.

Fonte GZH campo  e lavoura

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