Coronavírus avança mais rápido que a Sars, mas mata menos
Os casos de infecção por coronavírus, conhecido por 2019-nCoV, estão se espalhando mais rápido, mas são menos letais do que a Síndrome Respiratória Aguda Grave, SARs-CoV, que causou um surto na China entre 2002 e 2003.
No Brasil, os riscos de infecção e morte são ainda menores – são 9 casos suspeitos, todos com sintomas leves, que estão sendo investigados por precaução, de acordo com a médica infectologista Nancy Bellei, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. Não há nenhuma morte registrada no Brasil.
Até esta sexta-feira (31), o coronavírus já havia matado 213 pessoas na China e infectado 9.720 – taxa estimada de letalidade de 2,19%, segundo autoridades chinesas. Isso significa que, a cada 100 pessoas doentes, 2 morrem. Os dados são estimados porque o número total de infecções ainda é desconhecido.
Situação do coronavírus até a manhã desta sexta-feira (31)
- 213 mortes na China
- 9.720 casos suspeitos na China
- Outros 20 países têm mais de 100 pacientes infectados
- Reino Unido confirmou o primeiro caso de coronavírus
- 9 casos suspeitos no Brasil até 7h de sexta (31)
- Testes da vacina devem começar em junho
Já a Sars levou à morte 916 pessoas e contaminou 8.422 durante toda a epidemia – taxa de letalidade de 10,87%. Isso representa quase 11 mortes a cada 100 doentes. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS).
As duas infecções são causadas por vírus da família “coronavírus”, e recebem este nome porque têm formato de coroa. A diferença entre eles, segundo Bellei, é a forma de tranmissão: a Sars teve maior registro de contaminação dentro do hospital, entre pacientes e profissionais de saúde. O coronavírus está apresentando maior transmissão na população, antes de serem hospitalizados.
Nesta quinta-feira (30), a OMS declarou emergência de saúde pública internacional para o coronavírus – não pelo que ocorre na China, mas pelo avanço da doença em outros países. Até a manhã desta sexta, há registros de coronavírus em 20 países, além da China. Todas as mortes, no entanto, ocorreram em território chinês.
De acordo com a OMS, a maioria dos infectados com o novo coronavírus desenvolve sintomas semelhantes aos da gripe, e cerca de 20% progride para doenças mais graves, como pneumonia e insuficiência respiratória.
Coronavírus no Brasil
A médica infectologista Nancy Bellei, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que o momento é de vigilância no Brasil. O mais recente balanço do Ministério da Saúde sobre coronavírus no Brasil apontou que há suspeita de 9 casos da doença. Eles estão em Minas Gerais (1), Rio de Janeiro (1), Rio Grande do Sul (2), São Paulo (3), Paraná (1) e Ceará (1).
“O que a OMS fez foi um alerta. Isso significa que os países devem intensificar a vigilância e o isolamento [de pacientes com sintomas suspeitos]’. Não é uma pandemia”, afirma. Pandemia é o termo para doenças infecciosas que se espalham entre continentes e têm transmissões internas, sem que os pacientes tenham viajado. “Não significa que todo mundo vai morrer”, afirma Bellei.
Para Bellei, os casos suspeitos de coronavírus na China podem ter, em parte, pacientes com gripe. Ela afirma isso porque, entre os seis casos suspeitos descartados no Brasil, havia pacientes que estiveram na China, apresentaram sintomas respiratórios, foram submetidos a análises e os exames indicaram influenza, o que mostra que o vírus da gripe está circulando na China neste período de inverno no hemisfério norte.
“Muitos destes pacientes suspeitos da China podem estar com gripe ou virose, e não coronavírus. Com o tempo, a taxa de letalidade pode até cair e muitos casos serem descartados”, estima.
H1N1: maior letalidade e menor apelo
A gripe provocada por H1N1 em 2009 chegou a causar mais de 2 mil mortes, segundo Bellei. Ela destaca que, ainda hoje, o vírus continua a infectar pessoas durante o inverno, e a taxa de letalidade varia de 13 a 19%
“Todo ano morre bastante gente por H1N1 no país, uma doença que é conhecida, tem controle, mas ainda tem gente que não quer tomar vacina”, afirma.
Máscaras
O uso de máscaras é recomendado para profissionais de saúde, pacientes com suspeita de ter coronavírus e familiares e cuidadores que têm contato com essas enfermos, afirma Bellei.
Mas, segundo ela, não é necessário que todos tenham “uma máscara no bolso”.
“Em um ambiente externo, dificilmente você terá uma infecção. O ar está circulando, as gotículas com o vírus vão eventualmente ressecar. Neste momento, todo munto ter uma máscara no bolso não adianta”, afirma.
Os especialistas recomendam o que chamaram de “etiqueta respiratória” para evitar a transmissão: cobrir a boca com a manga da roupa ou braço em caso de tosses e espirros e sempre lavar as mãos.