Opinião – “Caso Marielle escancara a verdade que o brasileiro não quer ver: o crime não tem cor partidária”

Apesar de o noticiário estar privilegiando o fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro correr o risco de ser preso por, descumprindo determinação do STF, ter pernoitado duas vezes na embaixada da Hungria no Brasil, o esclarecimento do assassinato da vereadora Marielle Franco, anunciado domingo (24), continua repercutindo.

A questão agora é o viés político que se dá à morte da vereadora, ocorrido há seis anos e inicialmente levantando-se suspeitas do envolvimento da família de Bolsonaro, mas que levou à prisão, como mandantes, além de um conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, um irmão seu deputado federal – ambos ligados politicamente ao PT – e um delegado.

A realidade brasileira indica, mais uma vez, que o envolvimento com a criminalidade independe da filiação partidária do cidadão, como argumenta a jornalista Madeleine Lacsko:

“A solução do Caso Marielle traz uma verdade que o brasileiro prefere ignorar: bandidagem não tem cor partidária.

O eleitor brasileiro tem agido cada vez mais como se a bandidagem estivesse só do lado oposto. Os mandantes do assassinato estão aí para provar que não, a bandidagem estará onde quer que encontre espaço para atuar.

Quem é de direita sabe muito bem apontar a bandidagem da esquerda, mas desconversa quando se depara com um fato do tipo vindo da direita. Da mesma forma, quem é de esquerda vê muito bem a bandidagem da direita, mas desconversa na hora em que se depara com algo do gênero no próprio grupo.

Qual o efeito da cegueira deliberada exposta pelo caso Marielle? O apodrecimento moral de ambos os grupos. É nessa brecha que acabam infectados primeiro por corruptos e depois até pelo crime organizado.

Criminosos fazem o discurso político necessário para ter espaço, não se importam com ideias. Vão fazer tudo para ganhar poder e se infiltrar na política. Os nossos políticos poderiam dar uma ajudinha e ter pelo menos um limite, o envolvimento com crime organizado.

Não fazem e também não têm incentivo para fazer. O eleitor, no fim das contas, premia esse comportamento.

Imagine que você é bolsonarista. Quem cobra o ex-presidente pela proximidade com membros da milícia carioca, alguns condecorados por ele até dentro da cadeia, é só o pessoal da esquerda. Ele já não tem esse voto, nunca vai ter, é demonizado pelos esquerdistas. Por que cortaria essas relações que, de alguma forma são úteis? Talvez por pressão dos próprios eleitores, mas eles não fazem isso.

Imagine agora que você é lulista. O presidente do PT do Rio, Washington Quaquá, apoiou os irmãos Brazão durante toda a investigação e mesmo depois do resultado ainda diz que precisa de ‘provas’. Quem cobra que Lula e o PT se posicionem sobre Quaquá é só bolsonarista e antipetista. Nem o presidente nem o partido jamais terão esses votos, por que tomar uma atitude? Talvez se os próprios petistas demandassem, isso aconteceria. Mas eles não vão fazer isso.

O agora que você é lulista. O presidente do PT do Rio, Washington Quaquá, apoiou os irmãos Brazão durante toda a investigação e mesmo depois do resultado ainda diz que precisa de ‘provas’. Quem cobra que Lula e o PT se posicionem sobre Quaquá é só bolsonarista e antipetista. Nem o presidente nem o partido jamais terão esses votos, por que tomar uma atitude? Talvez se os próprios petistas demandassem, isso aconteceria. Mas eles não vão fazer isso.

O delegado Rivaldo Barbosa, outro mandante do assassinato, é um símbolo disso. A esquerda confiava nele porque temia Moro e Bolsonaro no caso Marielle. Agora que foi revelada a participação, tentam jogar para o colo de Braga Netto, que o nomeou para a função. Ocorre que as duas coisas são verdade, sem acesso aos dois grupos políticos, ele não teria conseguido fazer o que fez, seria impossível.

O sistema político adquiriu a lógica de premiar os piores, já que jogam fora das regras e não obedecem a nenhum limite. Ganham dos que têm respeito por alguma coisa. O eleitor diz que só pode fazer a opção pelo menos pior, mas continua ajudando as coisas piorarem com um silêncio cúmplice sobre as próprias escolhas. Nesse cenário de derrocada moral, exposto pelo caso Marielle, quem sai ganhando é o crime organizado.”

Fonte TNH1 C/ Flávio Gomes de Barros

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