FILME SOBRE AFUNDAMENTO DO SOLO EM MACEIÓ COMEÇA A SER GRAVADO
“Rota de Fuga” conta com Erom Cordeiro e Chico de Assis no elenco; obra é a primeira a transformar tragédia da Braskem em ficção
De repente, o chão tremeu. Pior. De repente, o chão, o teto, as ruas e tudo o que milhares de moradores de cinco bairros de Maceió conheciam desapareceu. As histórias e os traumas dessas pessoas que perderam tudo norteiam o filme “Rota de Fuga”, uma ficção baseada na tragédia da Braskem na capital alagoana, que começa a ser filmado no dia 22 de novembro. A obra tem direção de Henrique Oliveira e Ricardo Oliveira, com produção da Panan Filmes.
Filmado nas áreas afetadas pelo afundamento do solo, o filme foi idealizado por Ricardo Oliveira em 2019. O jornalista e roteirista também protagoniza o curta, ao lado de nomes relevantes da dramaturgia local: Erom Cordeiro — no ar na novela “Elas por Elas” (TV Globo) — Chico de Assis, Lucélia Pontes, Wanderlândia Melo e Cleyton Alves. O filme foi selecionado pelo VI Edital de Incentivo à Produção Audiovisual de Alagoas – Prêmio Pedro da Rocha.
“Fui movido pelo tremor de terra que aconteceu na região em 2018 e pelas eleições que também abalaram nosso solo no mesmo ano. Enquanto em casa via meu pai lidar com o luto após a morte do meu avô, assistia indignado o sofrimento das vítimas da mineradora na TV. Foi quando entendi que a dor da perda era universal e, mais do que uma história sobre relação pai e filho, deveria abordar o drama vivido na minha cidade. Sei da responsabilidade do tema e de ainda estar em frente às câmeras, mas, após quatro anos, me sinto seguro, empolgado e grato por contar com uma equipe massa”, afirma Ricardo.
Após décadas de mineração de sal-gema, parte da capital alagoana passa por um lento processo de afundamento do solo que abre rachaduras em ruas, prédios e casas, obrigando cerca de 55 mil pessoas a abandonarem suas residências e seus negócios. Mais de 14 mil imóveis foram condenados em cinco bairros de Maceió: Pinheiro, Bom Parto, Mutange, Bebedouro e Farol.
O filme vai além dos prejuízos econômicos e sociais causados pelo desastre ambiental da Braskem. O foco de “Rota de Fuga” são os traumas psicológicos que continuam a afetar as vítimas. A história acompanha Salvador (Ricardo Oliveira), que tenta lidar com seus conflitos emocionais decorrentes do maior desastre socioambiental em curso do mundo.
Ricardo divide a direção com Henrique Oliveira, que apesar do mesmo sobrenome, não é parente do roteirista. Henrique já dirigiu “Farpa” (2012), “Ontem à Noite” (2015) e “Alano” (2019), além de diversos outros trabalhos, como o álbum visual “Algo Ritmo Loga Ritmo”. A experiência do fundador da Panan Filmes fez com que Ricardo o convidasse para colaborar no novo projeto, o que resultou nessa direção a quatro mãos.
Henrique, que é ex-morador do Pinheiro, um dos bairros afetados pela mineradora Braskem, conta que um dos maiores desafios foi assegurar que a locação da casa do protagonista fosse na região vitimada pela tragédia.
“Quando finalmente achamos a casa, ela veio cheia de presentes que vão desde um acervo de arte de época incrível, até inúmeras facilidades logísticas, além claro do carinho que os donos estão nos recebendo. A reta final da pré-produção de um projeto sempre envolve muita ansiedade e nervos à flor da pele, principalmente se ele tiver o tempo de espera e a complexidade que ‘Rota de Fuga’ tem. Poder ecoar para o mundo a história de uma tragédia dessas proporções com a capacidade de alcance de público que um filme de ficção nos dá é realmente algo único”, declara Henrique.
Os diretores revelam que todas as personagens foram criadas com os atores escalados para o elenco em mente. O maior desafio era conseguir trazer para Alagoas Erom Cordeiro, que achou uma brecha nas gravações de uma novela no Rio de Janeiro para vir à sua cidade natal, exclusivamente para o “Rota de Fuga”.“Estar num filme que trata desse assunto tão grave e retrata essa tragédia em Maceió, mostrando a situação dos moradores que viram suas vidas desabarem, material e psicologicamente, é para mim uma forma de não deixar esse assunto cair no esquecimento. Tenho parentes que também tiveram que se mudar da região. Sinto-me honrado em estar junto a essa equipe incrível nesse projeto tão tocante”, diz Erom.
Fonte Jornal Gazeta de Alagoas