Uma autêntica tradição nordestina está a caminho da extinção, por puro interesse financeiro

Não é demais repetir que as chamadas festas juninas no Nordeste em 2023 privilegiaram músicos e ritmos de outras regiões do Brasil, deixando apenas – quando muito – espaços restritos, longe dos palcos principais, para os grupos autênticos de forró, razão de ser do tradicional evento de meio de ano na nossa região.

Apesar do risco de ficarem de fora também em programações futuras de prefeituras e governos estaduais, houve reação neste ano – desde integrantes de trios de “forró pé de serra” (à base de sanfona, zabumba e triângulo) a nomes consagrados da música regional, a exemplo de Flávio José, Alcimar Monteiro, Elba Ramalho e Santana, dentre outros.

É preciso que se diga que é nesse período junino que artistas regionais têm oportunidade de aumentar sua renda, faturando cachês um pouco melhores, até porque, pela própria tradição nordestina, não é comum esses profissionais serem contratados em outra época do ano.

Mais uma coisa: nenhum grupo de forró o Nordeste é contratado para se apresentar em outras regiões, em nenhuma época do ano, mas nós, nordestinos, passamos a ter de aturar, inclusive no nosso São João, ritmos que em nada nos dizem respeito, como axé, sertanejo, piseiro, etc…

Esses “invasores” da nossa cultura já têm seu espaço garantido por aqui durante o restante do ano – Revèillon, Carnaval, Semana Santa, Natal… – graças à manipulação das programações de rádios, TVs e redes sociais por empresários que visam acima de tudo o lucro financeiro e não têm nenhum compromisso com a preservação da cultura regional.

Para eles, o que importa é dinheiro na conta, muitas vezes compartilhado com responsáveis pelo conteúdo das mídias e com gestores públicos também descompromissados em preservar nossas tradições.

“Mas a turma jovem gosta mesmo é de um piseiro”, ouvi, ainda no início do mês de junho, de um empresário beneficiado com esse tipo de “festa junina” que impuseram a nós, nordestinos.

Prefiro afirmar, como lhe disse em resposta, que o brasileiro gosta mesmo é de festa, de animação, independentemente do que lhe seja oferecido.

Costumo repetir um caso concreto, que relato a seguir.

Numa não muito distante eleição municipal, o diretório nacional do Partido do Trabalhadores contratou o renomado e excelente pianista Arthur Moreira Lima para apresentações em várias cidades do Brasil, em eventos do partido abertos ao público.

Em Alagoas, coube ao deputado federal Paulão, ainda hoje a principal figura do PT no Estado, definir duas cidades para os concertos de Arthur Moreira Lima.

Paulão escolheu Maceió e pensou em União dos Palmares, mas o candidato a prefeito Paulo do PT não queria, alegando, em outras palavras, que “o povo de União nunca ouviu falar desse pianista”.

Quando a negativa do candidato em aceitar o show do pianista foi divulgada numa nota de coluna na “Tribuna Independente”, as críticas a ele foram muitas e, no mesmo dia da publicação, Paulo do PT mudou de ideia e a apresentação em União dos Palmares foi confirmada.

Resultado: a Praça Basiliano Sarmento ficou totalmente tomada por um público que aplaudiu entusiasticamente Arthur Moreira Lima.

Paulão do PT perdeu a disputa pela Prefeitura, por outras razões.

Mas que os palmarinos gostaram muito do show que lhes foi oferecido, gostaram.

Que fique a lição para as próximas “festas juninas”, antes que consigam acabar com o nosso forró…

Fonte TNH1 C/ Flávio Gomes de Barros

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