Ao mirar em Moro, Lula atinge PF e Flávio Dino, além de ignorar Guimarães Rosa

É compreensível a raiva que Lula carrega de Moro, que agiu com o claro objetivo de tirá-lo da disputa presidencial e ajudar o seu líder de então.

O que não é admissível é que ele transfira essa raiva para o presidente da República, alguém que deve ser, por obrigação, maior do que o cidadão que ficou preso injustamente por mais de 580 dias.

Não vou aqui citar o exemplo de Mandela, que era um ser humano bem acima da grande maioria de nós, pessoas comuns, e devia também ter muita raiva dos racistas e governantes da África do Sul (ele ficou 27 anos preso).

Mas ao mirar, nesses dias, o político Moro, um personagem desprezível, Lula deu a ele um tamanho que não tinha, além de atingir a Polícia Federal, que fez a investigação que descobriu o plano para matar o senador, e o seu ótimo ministro Flávio Dino – ficando apenas nestes. Outra possibilidade: Lula sabe mais do que disse, mas disse mais do que devia.

Ainda que eu saiba que muitos acham que literatura é bobagem, mera distração, deixo aqui uma citação de Guimarães Rosa – Grande Sertão: vereadas:

“Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente.”

Já que o presidente, que nunca foi uma pessoa do ódio e felizmente ganhou gosto pela leitura quando esteve na prisão, talvez alguém mais próximo a ele possa levá-lo às páginas da maior obra da literatura brasileira.

DP C/ Cadaminuto P/ Ricardo Mota

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