Mistura de vacinas na 3ª dose divide SP e Saúde, mas é indicada por estudos
A terceira dose da vacina contra a covid-19 se tornou o novo capitulo da longa disputa política entre o governo federal e o estado de São Paulo. Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou o início de nova aplicação de imunizante para 15 de setembro em idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos. O anúncio pegou o governo estadual de surpresa, que correu para anunciar início próprio: em 6 de setembro para idosos acima de 60 anos. Mas um detalhe irritou a gestão de João Doria (PSDB) e o Instituto Butantan: o ministério tirou a CoronaVac, produzida em São Paulo, das recomendações para a terceira dose.
Dimas Covas, diretor do instituto, disse que esta não foi uma decisão técnica. Doria disse que o estado usará “a vacina que tiver disponível”. O Ministério argumenta que a resposta imune aumenta com um reforço heterólogo (ou seja, com uma vacina diferente).
Estudos sobre terceira dose ainda são recentes e a maioria em pré-print (quando ainda não foram revisados pelos pares), mas apontam que a combinação de vacinas diferentes tem apresentado resultados positivos e indicam que vacinas de RNA mensageiro, como a Pfizer e Moderna, aumentam os anticorpos neutralizantes do vírus.
Estudos sobre terceira dose ainda são recentes e a maioria em pré-print (quando ainda não foram revisados pelos pares), mas apontam que a combinação de vacinas diferentes tem apresentado resultados positivos e indicam que vacinas de RNA mensageiro, como a Pfizer e Moderna, aumentam os anticorpos neutralizantes do vírus.
Pesquisadores defendem a mistura de doses, mas não descartam a CoronaVac e dizem que é melhor aplicar a terceira dose com a vacina disponível do que com a “ideal”.
Estudos indicam melhor resposta com doses ‘misturadas’ Como a vacinação contra a covid-19 começou só em dezembro de 2020 em alguns países, a maioria dos estudos sobre terceira dose começaram a surgir a partir de maio deste ano e têm apresentado resultados variados, porém favoráveis à mistura de tipos de vacina. Estudos preliminares feitos na Alemanha e na Bolívia indicam que misturar vacinas diferentes pode render uma “resposta imune mais robusta” e que o reforço com vacinas de RNA mensageiro apresentam um número maior de anticorpos neutralizantes.
Outro estudo da China, onde a população foi majoritariamente vacinada com a Sinopharm — de vírus inativado, como a CoronaVac —, também aponta para maior grau de proteção com complemento de doses heterogêneas e preferência pelas vacinas de RNA mensageiro. Creio que a dose heteróloga seja mais efetiva. Existem bons resultados com uma terceira dose de CoronaVac, mas os estudos de intercambialidade, principalmente com as vacinas da AstraZeneca e da Pfizer, vêm mostrando que a dose heteróloga é capaz de gerar uma resposta superior em relação às doses homólogas.”
O Ministério da Saúde foi no mesmo argumento. Na Nota Técnica em que justifica a adoção da terceira dose, a pasta afirma que pacientes imunossuprimidos transplantados apresentaram “importante ampliação da resposta imune tanto celular quanto humoral após a administração de dose adicional”. Na conclusão, o ministério indica, “preferencialmente”, vacinas de RNA mensageiro (Pfizer) ou, “de maneira alternativa”, de vetor viral (Astrazeneca e Janssen). As de vírus inativo (CoronaVac) não são citadas.
Não se pode descartar a CoronaVac Os estudos ainda são preliminares e não há consenso. O imunologista Gustavo Cabral, da USP (Universidade de São Paulo), discorda da decisão do ministério e indica que há estudos que mostram resultados mais promissores com CoronaVac do que com AstraZeneca.
“O que é difícil de ter um bom resultado é utilizar as três doses da mesma vacina de vetor viral. Porque a resposta imunológica não é só contra um pedaço do novo coronavírus, é contra todo o vetor viral. Essa vacina precisa chegar dentro da célula e a resposta imunológica muitas vezes impede”, ele argumenta. Por isso, ele diz que, embora faça sentido a estratégia heteróloga, não se pode descartar a CoronaVac, ainda mais se não houver doses para todos. “É loucura”, diz ele.
“A terceira dose heteróloga parece ser melhor, mas tem muito poucos dados disponíveis, os estudos estão em andamento. O que faz sentido é fazer logo a terceira dose para os que precisam, homóloga ou heteróloga, mesmo com poucos dados”, concorda o virologista José Eduardo Levi, do IMT-SUP (Instituto de Medicina Tropical da USP). Fontes diferentes têm dados resultados complementares. Tem uma série de estudos de campo em outros países que se viu de usar uma vacina diferente, mas tem estudo também na Ásia usando CoronaVac com resultados muito interessantes. Então talvez por isso esse dissenso entre as duas visões.”
fonte: Uol