Justiça começa a julgar acusados de matar grávida a caminho de pré-natal
Roberta Dias foi assassinada em 2012 e, desde então, mãe luta para punir acusados de matar filha e neto

Em 11 de abril de 2012, Mônica Reis almoçou com a filha, Roberta Dias, de 18 anos, sem imaginar que seria a última vez que a veria viva. Naquela tarde, enquanto a mãe tentava, sem sucesso, contato pelo celular, a filha era levada para Pontal do Peba, no município alagoano de Piaçabuçu. Grávida de três meses, a jovem saiu de casa para uma consulta pré-natal em Penedo, no Baixo São Francisco, e desapareceu.
O caso provocou uma grande repercussão na cidade e os desdobramentos foram ainda mais chocantes. Em entrevista à Gazeta, Mônica Reis relembra os momentos de angústia após o desaparecimento da filha. “O celular dela chamava, mas ninguém atendia. Quando desligou, eu sabia que algo ruim tinha acontecido”, relata.
O julgamento dos acusados Karlo Bruno Pereira Tavares, conhecido como “Bruninho”, e Mary Jane Araújo Santos, mãe do namorado da vítima à época, ambos acusados das autorias material e intelectual, ocorrerá entre os dias 23 e 25 deste mês, no Fórum de Penedo, presidido pelo juiz Lucas Dória.
Sobre o júri, Mônica não esconde a ansiedade. “São treze anos de sofrimento, humilhação e pressão. Tenho fé que a justiça será feita, mesmo sabendo que Roberta e o bebê não voltam”.
Mary Jane é acusada de ter pago R$ 30 mil para mandar matar Roberta e, assim, eliminar também qualquer vínculo de paternidade com o filho. Ela e Karlo respondem pelo crime. O namorado da vítima à época, Saullo de Thasso Araújo dos Santos, foi acusado de atrair a jovem da porta da clínica até o carro onde estava o executor que a matou. Ele era menor de idade e não foi denunciado, tendo sido representado na Vara da Infância e da Juventude.
INVESTIGAÇÕES
O caso, inicialmente tratado como desaparecimento, foi investigado como homicídio após um áudio vazado em 2018. Nele, Karlo Bruno confessava a um amigo ter asfixiado Roberta com um fio de som e enterrado seu corpo em Piaçabuçu. A ossada foi encontrada em 2021.
Foi a mãe de Roberta que, após saber que um crânio foi localizado naquela região, providenciou uma escavadeira para recolher os restos mortais da filha. Pouco depois, a polícia foi chamada e acionou a Perícia Oficial, que comprovou, após realização de exame, que se tratava, de fato, da jovem que desapareceu.
Conforme a ação penal proposta pelo Ministério Público de Alagoas (MPAL), Mary Jane teria procurado Roberta nos dias anteriores à data do seu desaparecimento para convencê-la a provocar o aborto, o que foi descartado pela vítima. Informada sobre a negativa, a mãe de Saullo decidiu colocar o plano criminoso em prática, contratando Karlo Bruno.
JULGAMENTO
O júri terá como base a denúncia do MPAL, que acusa os réus de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, feminicídio e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), ocultação de cadáver, corrupção de menores e aborto provocado por terceiro.
O promotor Sitael Jones Lemos afirmou que as 4,7 mil páginas do processo comprovam a materialidade e autoria. “O assassinato foi premeditado e contou com a participação tanto de Mary Jane quanto do próprio adolescente infrator, filho dela.”
Por redação C/ Gazeta de Alagoas