Popularidade de Lula está em declínio no Nordeste; reduto histórico do PT
Pesquisas recentes de três institutos mostram que a aprovação ao terceiro mandato do petista recuou acima de dez pontos na região
Na última quinta-feira, 4, o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou uma obra simbólica em Arcoverde, cidade no sertão do seu estado natal. A nova estação, que é parte da chamada Adutora do Agreste, um braço da transposição do Rio São Francisco, irá levar água a 68 municípios de uma das regiões mais secas do país. No dia seguinte, estava previsto na agenda outro destino emblemático: a vistoria de obras da Ferrovia Transnordestina, que irá ligar o porto de Pecém, no Ceará, ao Piauí, de onde se conectará à Ferrovia Norte-Sul.
A recente ida ao Nordeste é só mais uma na extensa agenda do petista na região. Ela inclui dezoito viagens em 2023 e cinco neste ano — nenhuma outra parte do país recebeu tantas visitas dele. Mas o movimento é compreensível: tradicional trincheira da esquerda, o eleitorado nordestino dá mostras de que a simpatia com Lula e o governo já não é mais a mesma de outros tempos.
A constatação da existência de rachaduras na muralha vermelha vem de todo lado. Pesquisas recentes de três institutos (Ipec, AtlasIntel e Paraná Pesquisas) mostram que a aprovação ao terceiro mandato do petista recuou acima de dez pontos no Nordeste (veja os quadros). Outras três sondagens mostram que a corrosão dessa boa vontade avançou bastante nas três maiores cidades da região: Fortaleza, Salvador e Recife. Na capital cearense, a insatisfação com o governo cresceu dezessete pontos em um ano, segundo o Paraná Pesquisas.
Embora Lula ainda tenha a aprovação da maioria do eleitorado da região, a oscilação negativa não deixa de ser preocupante, ainda mais a menos de seis meses de uma eleição municipal que Lula e o PT consideram estratégica. Em 2016, ano em que teve seu pior desempenho eleitoral por causa da Lava-Jato, o PT conquistou apenas uma capital, Rio Branco.
Na disputa seguinte, não conseguiu vencer em nenhuma, algo que não acontecia desde a sua fundação. Neste ano, a expectativa é lançar ao menos 125 candidatos a prefeitos nas cidades com mais de 100 000 habitantes e doze ou treze nas capitais. No Nordeste, petistas vão encabeçar candidaturas em Fortaleza, Teresina, Natal e Maceió, mas em nenhuma delas aparecem na liderança das pesquisas. Em João Pessoa, uma eventual candidatura petista está no campo das possibilidades.
A tendência da capital paraibana, assim como em São Luís, Salvador, Aracaju e Recife, é que o PT apoie candidatos de outros partidos. Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral da sigla, o senador Humberto Costa acha que o partido pode ser competitivo ao menos em Teresina, Fortaleza e Natal, mas para isso precisará do seu principal cacique político. “Contamos com a força do presidente Lula e das lideranças locais, que se somam à do PT, para termos um bom desempenho eleitoral neste ano na região”, afirma.
O PT tem ciência de que um bom desempenho no Nordeste neste ano, ainda que seja em eleições municipais, dará ao partido sustentação política na região daqui a dois anos, quando Lula deverá tentar a reeleição. Não por acaso, o presidente aproveitou a agenda recente na área para tratar dos problemas eleitorais.
Embora Lula ainda tenha a aprovação da maioria do eleitorado da região, a oscilação negativa não deixa de ser preocupante, ainda mais a menos de seis meses de uma eleição municipal que Lula e o PT consideram estratégica. Em 2016, ano em que teve seu pior desempenho eleitoral por causa da Lava-Jato, o PT conquistou apenas uma capital, Rio Branco.
Na disputa seguinte, não conseguiu vencer em nenhuma, algo que não acontecia desde a sua fundação. Neste ano, a expectativa é lançar ao menos 125 candidatos a prefeitos nas cidades com mais de 100 000 habitantes e doze ou treze nas capitais. No Nordeste, petistas vão encabeçar candidaturas em Fortaleza, Teresina, Natal e Maceió, mas em nenhuma delas aparecem na liderança das pesquisas. Em João Pessoa, uma eventual candidatura petista está no campo das possibilidades.
A tendência da capital paraibana, assim como em São Luís, Salvador, Aracaju e Recife, é que o PT apoie candidatos de outros partidos. Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral da sigla, o senador Humberto Costa acha que o partido pode ser competitivo ao menos em Teresina, Fortaleza e Natal, mas para isso precisará do seu principal cacique político. “Contamos com a força do presidente Lula e das lideranças locais, que se somam à do PT, para termos um bom desempenho eleitoral neste ano na região”, afirma.
O PT tem ciência de que um bom desempenho no Nordeste neste ano, ainda que seja em eleições municipais, dará ao partido sustentação política na região daqui a dois anos, quando Lula deverá tentar a reeleição. Não por acaso, o presidente aproveitou a agenda recente na área para tratar dos problemas eleitorais.
A oposição, claro, já sentiu o cheiro de sangue e intensificou a presença no Nordeste. O casal Jair e Michelle Bolsonaro tinha agenda marcada para Maceió na sexta, 5, a mais bolsonarista das capitais nordestinas em 2022, foi a única que deu mais votos ao ex-presidente do que a Lula.
O prefeito, João Henrique Caldas (PL), tentará a reeleição como o candidato bolsonarista. No sábado, a ex- primeira-dama vai receber o título de Cidadã Honorária de Maceió e participará de eventos no PL Mulher, enquanto o ex-presidente se dedicará a articulações com políticos locais. Trata-se de uma agenda que se tem tornado comum nos últimos tempos.
O roteiro na capital alagoana é exatamente o mesmo que foi feito em Salvador, no início de março. A peregrinação de Bolsonaro em “solo vermelho” ainda inclui João Pessoa, onde o ex-presidente participará de um evento com o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, pré-candidato a prefeito da capital paraibana pelo PL.
Segundo outro ex-ministro, Gilson Machado, Bolsonaro ainda deverá visitar em breve as cidades de Recife e Caruaru, ambas em Pernambuco.
Fator com peso enorme em todas as vitórias de Lula nas campanhas presidenciais, a hegemonia da esquerda na região é antiga e foi construída em grande parte pela ação do petista. Em 1993, uma década antes de ser eleito presidente, ele iniciou a primeira Caravana da Cidadania, em que percorreu 48 cidades em sete estados, a maioria no Nordeste, para ouvir as reivindicações da população. A viagem começou em Garanhuns (PE), onde o petista nasceu, e terminou no Guarujá (SP), para onde migrou.
A estratégia rendeu ganhos eleitorais e, anos mais tarde, ajudou a consolidar o PT como uma força política no Nordeste. Nos dois primeiros mandatos de Lula, a região experimentou um grande crescimento, impulsionado por políticas públicas, programas de distribuição de renda, obras de infraestrutura e investimentos.
Entre 2003 e 2013, o Nordeste teve um índice de crescimento econômico de 4,1% ao ano acima da média nacional, de 3,3%. No mesmo período, o número de estudantes universitários passou de 400 000 para 1,4 milhão.
Em 2013, a região atingiu 13,5% de participação no PIB nacional, o maior percentual da série histórica. Programas como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos e Cisternas ajudaram a aumentar a popularidade do petista nos estados nordestinos. Para além disso, há a identificação do eleitor com a saga de retirante do petista, contada frequentemente por ele em seus discursos até hoje.
Um dos motores da frustração atual por lá é justamente no campo econômico: a expectativa criada pela volta de Lula não se materializou até aqui em uma nova onda de prosperidade.
Mesmo com a desocupação em queda no país 7,8% no primeiro trimestre deste ano -, o Nordeste segue com o maior percentual de desempregados entre as regiões (10,4%). Todos os estados nordestinos têm taxas maiores do que a média nacional a Bahia tem a maior do país (13,3%), seguida de Pernambuco (13,2%).
Além disso, as famílias nordestinas de baixa renda foram as que mais sofreram com a inflação, de acordo com um estudo da FGV.
“O segundo semestre de 2023 foi de crescimento zero. Isso complica a popularidade de qualquer presidente, inclusive na sua base eleitoral”, afirma Ecio Costa, professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco. “Para o eleitor nordestino, que esperava uma melhora mais rápida, parece que o sonho acabou”, avalia Murilo Hidalgo, diretor do instituto Paraná Pesquisas.
No governo, aliás, é inegável a preocupação com o quadro. Em público, no entanto, a estratégia mais adotada é seguir a ordem do chefe e afirmar que o “tempo de amadurecimento dos frutos plantados ainda vai chegar”.
“As pesquisas revelam preocupação, claro, mas precisam ser mais bem decodificadas”, entende o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.
À frente de uma das pastas mais engajadas em atender ao Nordeste, ele cita ações com capacidade para reverter o quadro, como o programa Sertão Vivo, que tem a meta de investir 1,8 bilhão de reais, inicialmente, para financiar projetos de 430 000 famílias no semiárido nordestino.
Outra aposta é na renegociação das dívidas dos pequenos agricultores a partir de uma espécie de “Desenrola Rural”. Há expectativa também sobre novos programas e ousadas promessas para a educação, área na qual estados como Ceará, Pernambuco e Piauí têm virado referência para o país.
A principal vitrine é o Pé-de-Meia, que incentiva a permanência do aluno do ensino médio na escola mediante uma bolsa mensal. Lula também anunciou a meta de 100 novos institutos federais até 2026, dos quais 38 serão no Nordeste.
“São políticas efetivas que, claro, vão impactar”, avalia o ministro da Educação, Camilo Santana. Para Paulo Pimenta, a alta expectativa do eleitorado com a vitória em 2022 pode ter resultado em frustração. “Obtivemos um patamar de apoio muito alto no Nordeste e temos clareza que, quanto maior o apoio, maior é a expectativa. Aos poucos, o trabalho do governo vai aparecer mais”, confia.
Quando chegou ao poder pela primeira vez, na eleição de 2002, Lula foi aclamado por 62% dos eleitores do Nordeste na disputa contra José Serra (PSDB). Na eleição seguinte, contra outro tucano, o seu hoje vice, Geraldo Alckmin, levou 77% dos votos na região, mesmo desgastado pelo mensalão. Desde então, o PT sempre teve em torno de 70% de apoio, inclusive na derrota de Fernando Haddad para Bolsonaro em 2018, quando Lula estava preso.
Os sinais de descontentamento devem, de fato, preocupar Lula. Até porque é quase certo que seu principal adversário em 2026 virá do bloco de governadores do Sul-Sudeste, que cada vez mais atua de forma coesa e com uma pauta nacional. Nesse duelo que se avizinha, as primeiras trincas que surgem na histórica fortaleza petista são algo a não ser ignorado.