Entre confetes e falsas virtudes: Uma crônica carnavalesca.

por Lininho Novais 

 

O Carnaval  é alvo de reflexão profunda nas palavras sábias do saudoso Dom Helder Câmara:

“Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Brinque, meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que na quarta-feira a luta recomeça, mas ao menos se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!”

O arcebispo, defensor dos marginalizados, não apenas encara o Carnaval como uma celebração, mas também como um refúgio de alegria em meio à aspereza da vida. Suas palavras ressoam como um convite para que seu povo amado se entregue à festividade, lembrando-nos de que a alegria é uma dádiva escassa.

Em sua reflexão, Dom Helder desafia a moralidade convencional, questionando o peso dos excessos carnavalescos diante de Deus. Ele destaca a hipocrisia de alguns que, por se absterem da festividade, julgam-se superiores, esquecendo-se da essência da caridade e da compaixão. Essa crítica ressoa fortemente nos dias atuais, onde a sociedade muitas vezes é testemunha de uma duplicidade moral flagrante.

Falsos moralistas, enredados em suas próprias convenções, julgam com olhar crítico os foliões, esquecendo-se da mensagem mais profunda de Dom Helder: a necessidade de sonhar em meio à realidade dura da vida. Esses fariseus contemporâneos, ao se considerarem intocáveis, ignoram a verdadeira caridade e compaixão, essenciais para entender o significado pleno da humanidade.

Ao incitar seu povo a brincar, Dom Helder Câmara não está promovendo uma fuga irresponsável da realidade, mas sim inserindo um pouco de sonho na rotina árdua. É uma chamada à autenticidade, à quebra de fachadas hipócritas e à celebração da alegria genuína. Em contrapartida, os fariseus contemporâneos parecem esquecer que a vida é feita de nuances e que a verdadeira espiritualidade vai além da ostentação da abstinência.

O Carnaval, nas palavras de Dom Helder, é uma pausa necessária, um intervalo para a alma cansada. Enquanto alguns se empenham em apontar dedos acusadores, ele nos lembra de que, no final das contas, o que importa mais para Deus pode ser o farisaísmo e a falta de caridade daqueles que julgam a partir de sua suposta superioridade moral. Em tempos atuais, as palavras de Dom Helder permanecem como um chamado à verdadeira compreensão, humildade e amor ao próximo. Que possamos aprender a brincar sem julgamentos e a amar com a profundidade que a verdadeira espiritualidade exige.

Fonte cadaminuto

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