Coronavírus: especialista em fake news diz como combater notícias falsas

Quem nunca entrou em uma discussão com um familiar ou um amigo por causa de alguma notícia falsa? Na era da informação sem filtros e de fake news, a desinformação também tem colaborado com o agravamento da pandemia de coronavírus. As motivações de quem diminui os riscos da Covid-19 podem ser as mais variadas – econômica, política, ou pura ignorância – mas elas acabam prejudicando não só quem acredita em tudo aquilo que é compartilhado pelas redes sociais.Buscando uma explicação para o fenômeno e eventuais saídas para a crise de desinformação, VEJA conversou com John Carey, professor da Universidade Dartmouth, nos Estados Unidos, especialista em política americana e ciências sociais. Carey participou de um estudo realizado no Brasil e publicado no início do ano para testar o nível de conhecimento da população sobre outras duas doenças que se espalharam pelo país: o zika e a febre amarela. Ele vê diferenças no comportamento dos brasileiros em relação a essas enfermidades e ao novo coronavírus. Confira a íntegra da entrevista abaixoQual comportamento devemos adotar em relação àqueles que minimizam os riscos da pandemia? É um grande desafio. Confrontar as crenças das pessoas não é construtivo. Existe uma série de estudos sobre isso. Alguns deles mostram que confrontar diretamente o que as pessoas acreditam faz com que, em algumas circunstâncias, elas fiquem mais apegadas a essas convicções. Eles têm confiança sobre os conhecimentos que adquiriram e você pode ter problemas ao combatê-los. Me parece ser apenas um problema de falta de conhecimento. O problema é que não sabemos ao certo como isso se dá. Penso que o que realmente importa é a fonte de informação. Temos que fazer com que elas sejam mais próximas da comunidade. As pessoas tendem a acreditar mais nas informações vindas do governo local do que da autoridade estadual. E mais no estadual do que no federal. E provavelmente mais no federal do que nas organizações mundiais, como a ONU. O ideal é que as autoridades perto de casa endossem as recomendações ideais. É a melhor estratégia.

Por que é tão difícil para algumas pessoas seguirem as recomendações? No Brasil, há uma polarização como a que vivemos nos Estados Unidos, e eu suspeito que estejam, é difícil explicar. Aqui até mesmo o conhecimento científico passa por uma politização, contra e a favor do presidente Donald Trump. Penso que o mesmo ocorre em relação a Bolsonaro, mas não estou muito a par da situação. Esse é o desafio nos países onde isso ocorre. Também existe o problema que a literatura cientifica sobre o coronavírus é escassa, por ser uma doença nova. Você tenta combinar esse baixo nível de conhecimento com a falta de crença na doença dessas autoridades, sejam elas políticas ou até científicas. Em tempos como esses, quando o nível de insegurança é muito maior do que o usual, existe um desejo particular para que as narrativas que possam voltar a juntar todos sejam verdadeiras. As teorias conspiratórias podem fazer isso muitas vezes. Elas amarram as pontas soltas. Existe um verdadeiro apetite por esse tipo de explicação. Infelizmente, quando falamos com cientistas, eles mesmos classificam cada declaração que eles dão como incertas, porque eles baseiam seu conhecimento em pesquisas, mas isso não pôde ser feito com consistência ainda, porque é tudo muito novo. Então as teorias sobre soluções mirabolantes para o coronavírus satisfazem o que as pessoas estão procurando nesses países. Por isso é um desafio muito grande.

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