Quem foi o penedense José Prospero Jehovah da Silva Caroatá ?

Filho de José Joaquim de Sant’Ana e SilvaJosé Prospero Jehovah da Silva Caroatá nasceu em Penedo, Alagoas, no dia 25 de abril de 1825. Não foi possível identificar o nome de sua mãe e nem a origem do sobrenome Caroatá. Uma das possibilidades é a de ter sido incorporado à família no final da terceira década do século XIX, quando a instabilidade política fez surgir conflitos separatistas entre as oligarquias rurais brasileiras e a monarquia portuguesa. O nativismo extremado que nasceu daí levou algumas famílias a incorporarem a seus nomes as coisas do Brasil.

Caroatá é uma bromelia sagenaria, mais conhecida como Caroatá de Rede. Suas fibras produziam as linhas para as redes de pesca.

Rua da Corrente em Penedo no ano de 1922

O Bacharel

Não se tem informações sobre seus primeiros estudos, mas em 1850 estava concluindo, em Recife, o bacharelato em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Olinda.

Além dos estudos, iniciou ainda em 1850 vigorosa participação política, filiando-se ao Partido Conservador, criado em Alagoas pelo presidente da Província José Bento da Cunha Figueiredo e liderado também por Esperidião Eloy de Barros Pimentel, José Sizenando Avelino Pinho e Rodrigo Firminiano de Moraes. Foi nO Correio Maceioense, órgão oficial do governo, criado em 24 de março de 1850, que se iniciou no jornalismo. Esse periódico existiu até março de 1851, quando foi substituído pelo O Constitucional, dirigido por Inácio Passos Júnior, irmão de José Alexandre Passos. Funcionou até março de 1853.

Em dezembro de 1851 era o redator-chefe de O Timbre Alagoano, órgão oficial do Partido Conservador, fundado por José Bento da Cunha Figueiredo. Recebia a colaboração de Esperidião Eloy de Barros Pimentel, Rodrigo Neto, Firminiano de Moraes e José Sizenando Avelino Pinho.

Ao se estabelecer em Maceió, em 1851, se anunciava nos jornais como advogado “cível e crime”, atendendo em sua residência na Rua do Rosário, nº 29, atual Rua do Sol.

No dia 4 de junho de 1851 foi nomeado provisoriamente professor de Geografia, Cronologia e História do Liceu. No dia 8 do mês seguinte, também interinamente, assumiu a Procuradoria Fiscal da Tesouraria da Fazenda. Dois dias depois passou a ser o contador dessa mesma Tesouraria.

Em 7 de setembro de 1851 publicou n’O Constitucional que se achava nomeado Promotor de “Capellas”, onde passou a residir. No mês seguinte seu nome aparece como um dos candidatos do Partido Conservador que disputou vaga na assembleia provincial, ficando em 21º lugar com 421 votos. Ficou na suplência, mas assumiu o mandato naquela legislatura (1852-53).

A partir de 9 de julho de 1852 passou a ser diretor do Liceu, nomeado pelo vice-presidente da Província, Manoel Sobral Pinto, no exercício do poder.

Surpreendentemente, em fevereiro de 1854 seu nome surge em um anúncio no Jornal do Commercio (RJ) como professor de um colégio de instrução primária e secundária situado na Praia do Botafogo, Rio de Janeiro. Ensinava Geografia e Retórica. A nota divulgava que era “formado na academia de Olinda e ex-diretor do Liceu de Maceió”, e que morava “no estabelecimento, e durante sua residência nele nos faz o obséquio de lecionar as matérias acima mencionadas”.

Tinha sido substituído na direção do Liceu pelo bacharel José Correia da Silva Titara, que fora empossado em 27 de setembro de 1853, cumulativamente, como Diretor da Instrução Pública da Província.

Av. Freitas Melro em Penedo no ano de 1922

Ao relatar a situação do Liceu ao presidente da Província, Titara informou que o professor Caroatá, “se acha no Rio de Janeiro, estando pronunciado pelo Juiz de Direito desta Comarca por crime de responsabilidade perpetuado na qualidade de Diretor do Liceu, de que hoje por lei está exonerado (agosto de 1853)”. Havia sido denunciado por perseguir um professor por motivos políticos.

Em 1852, já de volta a Maceió, prestou concurso para professor de Geografia do Liceu. Aprovado, exerceu o magistério até janeiro de 1855, quando pediu demissão para assumir o cargo de promotor público de Penedo. No Liceu, desta feita, foi substituído por Thomas do Bomfim Espíndola. Após dois anos na Promotoria, foi nomeado juiz municipal e dos órfãos dos termos de Penedo e Traipu.

Novamente candidato a deputado provincial, exerceu o mandato na legislatura 1856-57.

Com o fim do mandato em 1857, fundou em Penedo o Colégio N. S. da Conceição, ocupando o velho sobrado que tinha sido residência do Barão de Penedo, na antiga Praça do Pelourinho. A partir de 1864 passou a ser lente catedrático vitalício da cadeira de Filosofia e Geografia de Penedo.

Em 6 de janeiro de 1868, foi nomeado pelo presidente da Província, Antônio Moreira de Barros, inspetor da Tesouraria Provincial.

Em 3 de março de 1874, o professor e bacharel penedense já estava morando no Rio de Janeiro, onde foi nomeado praticante da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça do Rio de Janeiro. Quatro anos depois, em 10 de setembro de 1878, foi indicado juiz de Direito da comarca de Miranda, no Mato Grosso. Não aceitou o cargo e em março de 1879 a indicação foi declarada sem efeito. Registro de 1889 indicam que permanecia como Oficial da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça.

Foi casado com a penedense Candida Emília Moreira Caroatá (†13 de agosto de 1877), filha do comerciante Candido Moreira Lemos (†21 de janeiro de 1905, com 86 anos de idade). Foi possível identificar os seguintes filhos do casal:

– Antero da Silva Caroatá (batizado em 4 de janeiro de 1861 em Penedo).

– Maria da Silva Moreira Caroatá (batizada em 19 de julho de 1863).

– José Maria da Silva Moreira Caroatá – nasceu em 1865 e foi batizado em 29 de maio. Era engenheiro civil e industrial, falecendo em Penedo, vítima da tuberculose pulmonar, em 20 de fevereiro de 1894. Tinha 29 anos de idade e era solteiro.

José Prospero Jehovah da Silva Caroatá faleceu no Rio de Janeiro em 28 de abril de 1890.

Em 7 de junho de 1936, Ademar Silva, do Instituto de Farmacologia, publicou em A Nação do Rio de Janeiro um texto sobre o tricentenário de Penedo, comemorado no dia 12 de maio. Nele registra que o município tinha elevado nível cultural e que naquela data era quase nulo o analfabetismo. Identificou o responsável por isso: “Esse surto de progresso cultural é devido, em sua fase inicial, a José Prospero Jeovah da Silva Caroatá, o mais fervoroso inimigo do analfabetismo”.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas desde 10 de junho de 1870, Caroatá publicou inúmeros trabalhos na revista da instituição. É o patrono da cadeira 25.

O estudo histórico Crônica do Penedo, antes de ser impresso, foi apresentado em 2 de março de 1872 durante uma sessão do ainda Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano. Em 16 de março foi feita a sua leitura e em seguida foi publicado nos três primeiros números da revista daquela instituição, v. I, n. 1, ano 1872, p. 2-7; v.I, n. 2, s/data, p. 1-8 e v.I, n. 3, [s/d], p. 33-42.

Penedo e a Praça Deodoro da Fonseca em 1932

Outras obras:

Memórias descritivas e estatísticas do rio São Francisco, publicado em série no Correio Mercantil do Rio de Janeiro em 1864.

Vademecum e Praxe Forense, contendo uma Abreviada Exposição da Teoria do Processo Civil. Rio de Janeiro: Tip. Universal, 1866 – chegou à 5ª edição, a última em 1913;

Apontamentos e Decisões Sobre Questões de Liberdade, Bahia, 1867;

Formulário de Despachos e Sentenças no Cível, Comércio, Juízo de Órfãos e Ausentes, Provedoria e Crime e de alguns processos que correm nos mesmos juízos e nos de Medição de Terras pelo juiz comissário, Rio de Janeiro: A.A. da Cruz Coutinho, Editor – 1874;

Repertório do Crime, contendo o extrato de toda a legislação policial e criminal em vigor, avisos até o fim de 1872 e decisões dos tribunais sobre questões de jurisprudência criminal;

Aviso até o fim de 1873 e decisões dos Tribunais sobre questões de Jurisprudência Criminal, Livraria Popular de A.A.da Cruz Coutinho Editor, 1875;

Imperiais resoluções tomadas sobre consultas da seção de Justiça do Conselho do Estado desde o ano de 1842, Rio de Janeiro: 1884.

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2 Comentários

    1. Penedo tem muita história que ainda precisa ser contada em novas versões. Porque o que a gente vê é toda vez a mesmice histórica. É preciso se aprofundar mais nos estudos.

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