Pacientes do setor de Ortopedia do Hospital Geral do Estado (HGE) que dependem de cirurgias denunciam a demora para a realização do procedimento, além da falta de material e de deficiências na estrutura da unidade.
No local, há idosos vítimas de fraturas que sofrem há aproximadamente um mês sem solução para os casos. Os problemas envolvem ainda falta de ar-condicionado, elevadores quebrados e, até mesmo, extintores para combate a incêndio. Os pacientes relatam que o atendimento no HGE entrou em colapso.
A área da Saúde tem sido uma das mais problemáticas da gestão do governador Renan Filho (MDB) e, inclusive, foi alvo de três operações de órgãos como a Polícia Federal (PF), que têm apontado a existência de esquemas criminosos e desvio de recursos públicos, envolvendo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesau).
Os problemas relatados por familiares de pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no HGE coincidem com a última operação na área, a Florence – Dama da Lâmpada, ocorrida há pouco mais de um mês e que desbaratou uma “quadrilha” envolvida no fornecimento de órtese, prótese e materiais especiais (OPME).
Segundo as acusações apresentadas à Justiça pelo Ministério Público Federal (MPF), a força-tarefa teria desviado aproximadamente R$ 30 milhões. Esses materiais são justamente os utilizados para a realização de cirurgias em pacientes ortopédicos.
A ação envolveu situações de fraudes e desvio de finalidade e recursos no HGE e, na Unidade de Emergência do Agreste, em Arapiraca, dois hospitais públicos ligados ao governo do Estado.
Em reportagem veiculada na TV Gazeta, nessa última quarta-feira (22), a trabalhadora autônoma Rosimeire Silva, que sofreu uma queda no banheiro da casa onde mora, em Maceió, e danificou o tendão da mão esquerda, no começo do mês, deu entrada no HGE e acabou transferida para outro hospital conveniado, o chamado leito de retaguarda, mas, até essa quinta-feira (23), permanecia sem realizar a cirurgia.
“O médico marcou e disse que não poderia fazer a cirurgia, porque estava faltando material”, relatou a paciente, que disse sentir dores. Ela está sem conseguir mover dois dedos da mão atingida e, com isso, segue impedida de trabalhar.
“Por conta disso, meus netos e meus filhos ficam passando dificuldades”, relatou. Sem solução para o problema, ela mesma decidiu assinar alta do hospital e voltar para a casa, sem conseguir realizar o procedimento.
No HGE, a acompanhante de uma paciente de 94 anos, identificada apenas por Ana, – ao fazer a denúncia, pediu para não ter o nome divulgado – mostrou vídeo da tia que quebrou o fêmur e permanece interna no local, há aproximadamente um mês, à espera de cirurgia. Ela também confirmou que o procedimento ainda não ocorreu por falta de material.
“O quadro dela está se agravando e ela já apresenta escara nas costas”, lamentou. De acordo com Ana, a informação no HGE era de que a senhora precisava ser transferida para realizar a cirurgia em hospital na cidade de Coruripe.
Além de sofrer com a fratura e permanecer deitada todo o tempo na enfermaria do hospital, os idosos no local ainda sofrem com o calor, devido à falta de ar-condicionado, um problema que ocorre desde o ano passado e que, inclusive, chegou até mesmo a acontecer na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Quem acompanha os pacientes, como é o caso de Ana, os espaços cedidos são pequenos e algumas pessoas dormem em papelão, segundo ela, já que não é permitida a entrada de colchões.
Em outro vídeo mostrado na reportagem, outra senhora de 87 anos também aguardava há dias pela realização de cirurgia ortopédica.
Ao tomar conhecimento da situação, a defensora pública Manuela Carvalho informou que os pacientes à espera de procedimentos cirúrgicos, ou seus representantes, podem procurar o órgão com laudo das condições de saúde e o pedido de cirurgia, para que o órgão oficie ao HGE o cumprimento das medidas.
“Caso não consiga realizar a cirurgia, a Defensoria oficia ao HGE para que nos envie as informações necessárias e, a partir daí, a gente tenta uma resolução administrativa. Não sendo possível, a gente entra com processo judicial, para que aquela cirurgia seja garantida por ordem de um juiz”, reforçou.
A defensora reconheceu a existência dos chamados leitos de retaguarda no HGE, que pode transferir pacientes para outros hospitais conveniados, mas ressaltou que nem sempre o atendimento tem acontecido.
“Há especificações que essas instituições não englobam, então realmente tem casos em que a gente precisa entrar na Justiça”, acrescentou, referindo-se também a outros tipos de cirurgia, além de ortopédicas.
Ao ser procurada pela reportagem, a direção do HGE não quis se pronunciar e negou que estivesse faltando material para cirurgias no hospital. Afirmou que os casos citados seriam de menor complexidade e que, por isso, seria necessária a transferência dos pacientes, e que a demora para isso era problema dos hospitais conveniados.
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